terça-feira, 20 de outubro de 2009

Sobre foices, martelos e berimbaus

Mestre Pastinha e Jorge Amado
Pastinha,a capoeira e o berimbau e, na foto à direita, em embate improvável com Jorge
Quando o então secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética, Nikita Kruschchev, denunciou, em discurso secreto no XX Congresso do PCUS, os expurgos (assassinatos) e o culto à personalidade do antecessor, Josef Stalin, em 23 de fevereiro de 1956, o comunismo mundial se cindiu definitivamente e os intelectuais patrocinados por Moscou, mundo afora, ficaram atônitos. No Brasil, o principal expoente literário do stalinismo, Jorge Leal Amado de Faria, que recebera, em 1951, o Prêmio Stalin da Paz, rezava na cartilha do realismo socialista e se empenhava pessoalmente no projeto da ditadura do proletariado. Do atoleiro da desilusão, socorreu-lhe o povo da Bahia.


No Largo do Pelourinho, um negro atarracado que nascera com a proclamação da República e estaria, portanto, completando 120 anos, urdia uma revolução silenciosa. Em 1941, onde hoje funciona o restaurante do Senac, Vicente Ferreira Pastinha fundara a primeira escola oficial de capoeira da Bahia e começara, como Jorge Amado e Dorival Caymmi, a assumir importância crucial na preservação e na divulgação da cultura da cidade que, apropriadamente, Gilberto Gil batizou de Roma Negra. Em 1950, mestre Pastinha gravaria, com folcloristas brasileiros e brasilianistas franceses e alemães, documentários que correriam o mundo apresentando os gingados e as ladainhas da capoeira de Angola, genuinamente africana, que servira aos propósitos dos escravos em fuga; mas, a partir de então, seria assumida como arte, dança, manifestação física de elevação espiritual.


São Paulo elegera Jorge Amado deputado federal pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB), em 1945, com 15.315 votos. Mas, com o governo de Eurico Gaspar Dutra, o PCB voltaria à ilegalidade e os mandatos de toda a bancada do Partidão seriam cassados em 1948. Em 1954, Jorge escreveria uma trilogia intitulada Os Subterrâneos da Liberdade, a última aventura panfletária. Era uma obra presa a cânones políticos rígidos, mas temperada com o talento extraordinário que o escritor demonstrara desde os 19 anos, com o primeiro romance, O País do Carnaval, de 1931.

Para Jorge Amado, em consequência do próprio amadurecimento, da denúncia de Kruschchev e do desencanto com Stalin, a literatura renascia, exuberante, naquele final dos anos 50. Era chegada a hora de o contador de histórias de Itabuna, tão criticado pelos estetas, mostrar que, de fato, esbanjava tirocínio literário. A resposta foi fulminante. Em 1958 e 1959, mergulhado na observação do cotidiano real, escreveu dois dos principais romances da literatura brasileira no século passado: Gabriela, Cravo e Canela e A Morte e a A Morte de Quincas Berro d'Água.

Na nova fase, Jorge Amado provava para si mesmo e para os críticos que não precisava de Moscou, mas dependia (sempre), visceralmente, das igrejas barrocas, dos terreiros e das vielas em pés-de-moleque do Pelourinho, da Ladeira do Taboão e da Cidade Baixa. Suas páginas já não se ressentiam das presenças e das influências de Gorki, Stalin, Molotov ou Luís Carlos Prestes, mas precisavam muito da egrégora de Gregório de Mattos, de Castro Alves, dos pescadores e das putas do cais, das moralistas, dos coronéis, dos mascates turcos, dos bêbados, dos capoeiras, dos assassinos de aluguel, dos malandros, dos cornos, dos carnavais, de todos os santos da Bahia, presentes, desde o começo, na literatura amadiana, mas agora muito mais reais, porque vivos, críticos, sensuais, coloridos e livres. Deixava a ingenuidade populista para se tornar o mais popular dos escritores brasileiros.


É bem verdade que dos 20,7 milhões de livros de Jorge Amado vendidos até 2001, o recorde permanecia com o clássico Capitães de Areia (3,7 milhões), escrito em 1937, no auge das execuções comandadas por Stalin na União Soviética, quando Moscou patrocinava aberta ou veladamente os principais intelectuais alinhados do planeta. Mas, se números servem para alguma coisa, Quincas Berro d'Água (3,2 milhões) e Gabriela Cravo e Canela (2 milhões) responderam juntos por 25% do volume total de vendas. E das dez obras mais lidas do escritor baiano, oito foram escritas após as denúncias de Kruschchev.


Ainda na fase comprometida com o comunismo internacional, Jorge Amado conheceu mestre Pastinha e chegou a descrevê-lo, no romance-guia Bahia de Todos os Santos (1944), como "um mulato pequeno, de assombrosa agilidade, de resistência incomum. (...) Os adversários sucedem-se, um jovem, outro jovem, mais outro jovem, discípulos ou colegas de Pastinha, e ele os vence a todos e jamais se cansa, jamais perde o fôlego." Mas a aproximação do romancista com o maior capoeira da história da Bahia se deu no período do amadurecimento de ambos.

O hilário Quincas Berro d'Água, por exemplo, foi publicado, em 1959, na revista Senhor, embora só transformado em livro três anos mais tarde, com prefácio de Vinicius de Moraes. O poeta reconhecia ali a transfiguração sutil e radical no trabalho de Jorge Amado, que abandonara os influxos maniqueístas e flertava com o realismo mágico, cujo monumento inaugural é Pedro Paramo (1955), obra-prima de pouco mais de 150 páginas do mexicano Juan Rulfo. É no Quincas, por exemplo, que Jorge faz sua maior homenagem ao mestre da capoeira de Angola. No romance, Negro Pastinha é um dos melhores amigos de Joaquim Soares da Cunha, o Quincas, pai e marido exemplar e funcionário público respeitável que, um dia, cansado da mediocridade, decide se entregar à boêmia. Torna-se o cafajeste mais debochado e querido do submundo de Salvador, para o constrangimento da família e o regozijo da ralé dos becos, bares e lupanares.

Pastinha, que defendia a natureza desportiva da arte marcial africana, publicou um livro, Capoeira de Angola, em 1965. Jorge Amado escreveu no prefácio: "... mestre da capoeira de Angola e da cordialidade baiana, ser de alta civilização, homem do povo com toda sua picardia, é um dos seus ilustres, um de seus abás, de seus chefes. É o primeiro em sua arte, senhor da agilidade e da coragem, da lealdade e da convivência fraternal. Em sua escola, no Pelourinho, Mestre Pastinha constrói cultura brasileira, da mais real e da melhor. Toda vez que assisto esse homem, de 75 anos, a jogar capoeira, dançar samba, exibir sua arte com o elã de um adolescente, sinto a invencível força do povo da Bahia, sobrevivendo e construindo apesar da penúria infinita, da miséria, do abandono. Em si mesmo o povo encontra forças e produz sua grandeza. Símbolo e face deste povo é mestre Pastinha."

No final da década de 1950, a exemplo do movimento comunista mundial, a capoeira na Bahia sofreria um racha e Jorge tomaria partido do mestre Pastinha. Em um manifesto de 1958, o escritor condena as transformações empreendidas pelo mestre Bimba, criador da chamada capoeira regional. "Trava-se, atualmente, nos arraiais da capoeira na Bahia, uma grande discussão. Acontece que mestre Bimba foi ao Rio de Janeiro mostrar aos cariocas da Lapa como é que se joga capoeira. E lá aprendeu golpes de catch-as-catch-can, de jiu-jitsu, de boxe. Misturou tudo isso à capoeira de Angola, aquela que nasceu de uma dança dos negros, e voltou à sua cidade falando numa nova capoeira, a capoeira regional. Dez capoeiristas dos mais cotados me afirmaram, num amplo e democrático debate que travamos sobre a nova escola de mestre Bimba, que a 'regional' não merece confiança e é uma deturpação da velha capoeira da Angola, a única verdadeira."

Bem longe de Moscou e da China, os terreiros regionais e de Angola de Salvador convivem pacificamente. E os mestres Pastinha e Bimba jamais se declararam inimigos.

Sobre a vida de Vicente Ferreira Pastinha (1889-1981), que nasceu e morreu em Salvador, pai espanhol e mãe baiana, a fonte mais fidedigna é o depoimento do próprio mestre ao Museu de Imagem e do Som (MIS), em 1967. "Quando tinha uns dez anos - e era franzininho - um outro menino mais taludo do que eu tornou-se meu rival. Era só eu sair para a rua - ir na venda fazer compra, por exemplo - e a gente se pegava em briga. Só sei que acabava apanhando dele, sempre. Então ia chorar escondido de vergonha e tristeza." As humilhações se repetiriam até Pastinha conhecer Benedito, negro alforriado. "Um dia, da janela de sua casa, um velho africano assistiu a uma briga da gente: 'Vem cá, meu filho!', ele me disse, vendo que eu chorava de raiva depois de apanhar. 'Você não pode com ele, sabe, porque ele é maior e tem mais idade. O tempo que você perde empinando raia, vem aqui no meu cazuá que vou lhe ensinar coisa de muita valia'". Ali, Pastinha começaria a aprender o legado da cultura da África que passaria para muitas gerações de mestres na Bahia e em todo o Brasil.

Benedito, o professor, exigia de Pastinha a dedicação de um samurai. "Ele costumava dizer: 'não provoque, menino, vai botando devagarinho ele (o rival) sabedor do que você sabe'". Pastinha, enfim, pôde mostrar ao rapaz o que sabia e a rivalidade se converteria em amizade e admiração." Além de técnicas de capoeira, Pastinha aprendeu a ser didático, comunicativo e original. Ele passou a privilegiar a expressão artística da capoeira, o trabalho físico e mental da modalidade de Angola, a mais tradicional das artes marciais africanas que aportaram no Brasil. E tocava berimbau acompanhado das ladainhas, que atraíam também as mulheres e crianças.


Em 1966, enquanto Jorge Amado lançava Dona Flor e Seus Dois Maridos, Pastinha integrava a comitiva brasileira ao primeiro Festival Mundial de Arte Negra no Senegal. Nas gerações memoráveis de capoeiristas que formou estão João Grande, João Pequeno, Curió e Bola Sete (presidente da Associação Brasileira de Capoeira Angola). A escola de Pastinha passou a ser frequentada por Jorge Amado e pelos artistas plásticos Mário Cravo e Carybé e cantada por Caetano Veloso, no disco Transa (1972). Na fase mais turva da ditadura militar, em 1973, Pastinha foi expulso do Pelourinho, enquanto Jorge colhia o sucesso de Teresa Batista Cansada de Guerra. O mestre sofreu, em sequência, dois derrames e ficou cego. Mesmo assim, gingou capoeira até a morte, aos 92 anos. No depoimento ao MIS, revelou: "Tudo o que penso da capoeira, escrevi no quadro que está na porta da academia. Em cima, três palavras: Angola, capoeira, mãe. E, embaixo, o pensamento: "Mandinga de escravo em ânsia de liberdade, seu princípio não tem método e seu fim é inconcebível ao mais sábio capoeirista."


Cláudio Renato

Documentário gravado pelo folclorista brasileiro Alceu Maynard: imagens inéditas do mestre Pastinha jogando com alunos do seu grupo - o CECA - na Bahia, em 1950.


20 comentários:

  1. Sir Renato,

    Jorge Amado nunca conseguiu exercer com competência o papel de Máximo Górki dos trópicos e muito menos de Stalin na política. Só para lembrar, a título de curiosidade, "górki" em russo significa amargo e "stalin", "de ferro". Amado era doce demais, meigo demais, sensual demais para exercer esse papel. Já nos três primeiros romances - O Pais do Carnaval, Jubiabá e Cacau - ele não consegue disfarçar o lirismo exarcerbado. E quando fala de política, coitado, é de um maniqueísmo lamentável. Mas há de se notar que grandes livros de Jorge Amado foram escritos ainda no período stalinista, como Mar Morto e
    Capitães de Areia.

    Você tem toda a razão quando diz que Jorge Amado amadureceu muito à medida que se desligou daquela cortina de ferro, em que pese o reacionarismo dessa expressão. Na minha opinião, por exemplo, Tocaia Grande, de 1984, é um livro extraordinário: é como se ele fizesse um compêndio das três primeiras obras da juventude e as reescrevesse, em um livro só, com a experiência e a terembentina de um escritor calejado e consagrado.

    Jorge Amado sabe muito bem o mal que o compromisso acrítico com a ideologia fez á obra dele. Tanto que, em 1992, preparou "Boris, o Vermelho", uma obra que prometia ser autocrítica. Desistiu. Creio que ele nem quisesse pensar mais nisso.

    Com relação ao negro Pastinha, ele foi fundamental para a consolidação da capoeira de Angola, mais pelo exerício político e filosófico da luta. Pastinha dizia que nunca inventou nada, só formulou uma nova maneira de se encarar a capoeira. Tanto que atraiu gente de todos os sexos, idades e classes sociais para sua academia.

    Muito bem. Um abraço desse seu fiel seguidor.

    Graciano Filho - João Pessoa (PB)

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  2. Cláudio, eu confesso que fiz um passeio pela vida e obra de Jorge Amado, mas nunca tinha encarado o contexto cultural e político que se lança na teia da Bahia em si.
    Como se o exemplo de que a capoeira fosse quase óbvia, mas não influenciasse diretamente na história do escritor..(Tolinha..rs)
    Ler seu texto me reportou a uma magia mais complexa. Entre fatos e ressalvas, a história se faz em misteriosos relances entre obras e relações de vida. Pastinha e Jorge Amado, ícones bem próximos, uma magia em comum..
    Adorei! Beijos, Monique.

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  3. Bela homenagem ao mestre Pastinha e aquele que, para Antônio Callado, seria o escritor brasileiro Prêmio Nobel de Literatura. Mas, é preciso dizer algo sobre a capoeira carioca.
    Primeiro, ninguém veio "ensinar" a jogar capoeira aos malandros da Lapa. A capoeira , fenômeno urbano, é praticada desde o início do século XVIII na maior cidade do Império brasileiro (assim como Salvador, Recife e São Luis do Maranhão).
    Essa arte, repertório de danças (na África o mesmo que luta), tomou forma definitiva no Brasil e foi varrida das ruas do Rio em 1890, de forma implacável e odiosa pelo chefe da polícia da capital da República e filho da oligarquia cafeicultora paulista, João Batista Sampaio Ferraz.
    Foram presos, sem julgamento, negros, mulatos e portugueses pobres (esses últimos responsáveis pela introdução da navalha no jogo).
    Essa repressão e a versão baiana da capoeira, tendo como mestres Pastinha e Bimba, contribuíram para apagar das crônicas do século passado nomes e lendas como Daniel Moleque, Pilotinho, Tracinha, Quebra-tudo, Gary e os mais afamados Campanhão e Manduca da Praia, segundo o professor da UFB Carlos Eugênio Líbano.
    A história da capoeira carioca ainda está para ser resgatada, assim como o navio Madeira, que carregou em seus porões capoeiras amontoados para apodrecerem até a morte na Ilha de Fernando de Noronha,colocado a pique no fundo da Baía de Guanabara, até hoje, pela Revolução da Armada de 1894.

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  4. Claudio Renato.

    Tentei colocar um comentário no teu blog sobre a ultima postagem, mas não consegui. Fica a aqui o registro:

    Excelente texto, riquíssimo em informações. Vídeo histórico do Pastinha!


    Axé!

    Eduardo
    Instituto Brasilidades
    Porto Alegre - RS

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  5. Cláudio,
    que beleza de texto e vídeo.

    De minha parte, à parte a paixão por Salvador e pela Bahia (e suas gentes, suas tranças...), quero só registrar que tenho "A Morte e a Morte de Quincas Berro D'Água" como uma obra-prima. Sem tirar nem por, na minha modesta opinião, o grande livro - entre os grandes livros - de Jorge Amado.

    Os motivos são muitos e não cabem aqui. Mas o flerte com o realismo fantástico, por exemplo, parece-me tão interessante e diferente de outros que viriam justamente porque, em se tratando daquele universo de Salvador e suas ladeiras e personagens que ele descreve (com grande amor), é "bastante possível" de aquilo "ser" a própria realidade, entende?

    Além disso, o jogo com a questão da morte é de uma genialidade sem par - morte para a família e para o "mundo formal de engravatados e que tais", que não aceitam Quincas em sua nova vida (que é, bolas, a que ele escolhe); depois a morte-morte (a segunda); e ainda a morte depois de morto, quando o corpo, levado e celebrado pelos "seus" (da rua, do mundo), cai no mar... Enfim, é tudo de um lirismo, de uma verve e de uma concisão geniais.

    Salve, sempre e para sempre (e a despeito dos intelectuais que o rejeitam), Jorge Amado! E viva a intensa magia de Salvador e da Bahia de Todos os Santos, terra-mãe que - ainda bem - trazemos conosco pela vida afora, mãe da nossa brasilidade atávica que muitos, coitados, teimam em rejeitar.

    Grande abraço, meu amigo.

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  6. Bete Nogueira disse:

    Salve Jorge! E salve cada um dos mestres e artistas maravilhosos que pairam no anonimato. Lendo o texto, me deu uma tremenda saudade de Salvador. Ao mesmo tempo, uma tristeza de lembrar que, querendo mostrar manifestações culturais locais, muitos só falavam, com alegria e orgulho baianos, sobre Ivetes, Chicletes, camarotes e afins. Calada, fui fazendo meu roteiro amoroso: Casa de Jorge Amado, traços de Caymmi, a Praça Castro Alves (que muuuito me emocionou!) e visitei com fervor aquela igrejas lindas. Bom, mas a religião, de um modo geral, é muito diferente do que eu esperava encontrar. Enfim, "quando voltar à Bahia, terei muito o que escavar" para continuar me deliciando com a Bahia que o Brasil se acostumou a amar. E Jorge será o meu guia. Ogum iê!

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  7. "Do atoleiro da desilusão, socorreu-lhe o povo da Bahia.", achei genial essa frase. Resume perfeitamente a guinada que o escritor faz para se tornar Jorge Amado.
    Um texto muito bom, deste que sou testemunha de sua devoção.

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. Agradecemos orgulhosamente o incentivo da Fundação Casa de Jorge Amado, de Salvador, que, a partir da publicação do texto "Sobre foices, martelos e berimbaus", se tornou seguidora do Passavante.

    A FCJA mora na casa colonial azul, bela e inconfundível, no alto do Largo do Pelourinho. Guarda o acervo de Jorge Amado e Zélia Gattai. Além de munir o trabalho de pesquisadores de todo o mundo, promove visitas e incentiva a leitura entre crianças de escolas públicas da Bahia. Evoé!

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  10. Mais uma vez, querido amigo, aprendi um pouco mais sobre nosso passado daquela maneira que só você sabe nos contar: contextualizando o cenário político da época com o literário. Acho que Jorge Amado, assim como qualquer outro homem sensível e brasileiro de alma, percebe que a política é um realismo que nada tem de fantástico. E que escrever sobre a relação humana com nossas terras, seja em Salvador ou no Rio de Janeiro, regional ou angolana, e relatar histórias geniais, estas, sim, fantásticas, isso é que é a maior declaração de amor à cultura, a nossa. Berimbau é o único instrumento dos três que você sugere no título, que nunca pode ser utilizado como arma, e também, só através de sua musicalidade é que se pode ouvir a liberdade. É agregador. Talvez Jorge tivesse ouvido tais acordes antes mesmo de conhecer Pastinha, como se fosse um presságio dos novos tempos. Jorge Amado nos deixa em transe com suas palavras e seus relatos. Flutuamos quase.

    É como diz o García-Márquez: "A escrita tornou-se então fluida, e tanto que às vezes me sentia escrevendo pelo puro prazer de narrar, que é talvez o estado humano que mais se parece à levitação".

    Parabéns, Crenato!

    Abraço

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  11. Saber dessas histórias inusitadas através de um texto tão bem escrito é como descobrir uma mata virgem por uma trilha traçada por pedras cuidadosamente posicionadas. Um caminho perfeito.

    A convivência pacífica entre os terreiros regionais e os de Angola; e o fato de Pastinha e Bimba nunca terem se declarado inimigos, embora tivessem escolhido "caminhos diferentes", mostram uma das melhores qualidades do povo brasileiro (na minha opinião): a tolerância.

    Com raras exceções, os brasileiros têm uma grande capacidade de respeitar as diferenças, característica que é fruto da construção histórica do Estado brasileiro feita a partir da diversidade e da mistura cultural.

    Ao abandonar o discurso essencialmente político, Jorge Amado encontrou-se nas raízes brasileiras. Na "paisagem" baiana, encontrou personagens, cores, cheiros e temperos especiais: matéria-prima de alta qualidade para a literatura. Com isso, proporcionou a todos nós uma das melhores sensações: a viagem à imaginação.

    E você, CR, me proporcionou uma viagem histórica deliciosa.

    Eu não me canso de te ler!

    Um beijo!

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  12. Oi Claudio, sempre que passo por aqui, aprendo, redescubro histórias e fico maravilhada com seu texto. Este vou reler e reler. Uma só vez é pouco. Tenho que degustar. abraço carinhoso.
    Foi ótimo Rogério ter me indicado seu blog,.

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  13. Grande texto! É interessante pensar como somos humanos e no fundo de alguma forma vemos situações se repetir. O panorama político deu o "start" para um Jorge que já existia que já sentíamos nos livros anteriores, mas definitivamente despontou tal qual uma raio de Iansã. Você tem a capacidade de destrinchar e reerguer histórias importantes que muitos insitem em deixar de lado. Sem querer ser bairrista, acho que o texto passa uma imagem muito simplista quando menciona a capoeira carioca, como "culpada de algo ou suja". Quanto ao Mestre Pastinha...Mestre é Mestre e sempre será Mestre.

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  14. Esqueci de dizer...O título é maravilhoso e o vídeo Idem!!!

    Salve e aguardo contatos para próxima cerva!!!

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  15. Preciosíssimo o vídeo-bônus que acompanha o texto! A exemplo daqueloutro da (bolivariana...) Mercedes. Obrigado!

    Quanto ao texto em si, posso estar enganado, mas tenho observado que a escrita tem se tornado mais didática, ou histórica/documental, em detrimento do exercício criativo... embora ele continue presente aqui, em alguns momentos.

    Mas mesmo que o texto se consolide nesse "estilo", continuarei a tirar proveito das "aulas", tão ricas e proveitosas, além de saborosas.

    Um abraço!

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  16. Maravilhosas palavras! Que aula! Para quem nunca leu Jorge Amado, assumo essa tremenda bola fora, pude sentir um gostinho da Bahia e matar as saudades do Brasil. Confesso que estou entregue ao García-Lorca, mas seu texto fez cosquinha! Adorei, Claudio.

    Besos

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  17. Comentários de integrantes da comunidade Mestre Pastinha no Orkut:

    Teimosia
    Muito bacana !

    Axé,
    T. 30 out jotaga
    Pastinha Jorge Amados e os intelectuais
    A eles juntaram-se Caribé, Pierre Verger, entre outros intelectuais da época que elegeram a cidade do Salvador como a capital da diáspora. No livreto "No barracão do Waldemar" de Fred Abreu ha citação da presença constante desses intelectuais nos dias de função. 30 out jotaga
    Mestre Pastinha
    Capoeira Angola manifestação fisica de elevação espiritual.

    Elevadissimo! 30 out Andre
    "Mestre Pastinha - Capoeira Angola manifestação fisica de elevação espiritual."

    Quem tiver olhos para ver que veja!


    Axe!!!

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  18. Dois integrantes da comunidade de Mestre Pastinha no Orkut levantaram dúvidas pertinentes

    Rouxinol
    Claudio

    Vc tem certeza sobre esta frase?

    Em 1941, onde hoje funciona o restaurante do Senac, Vicente Ferreira Pastinha fundara a primeira escola oficial de capoeira da Bahia e começara, como Jorge Amado e Dorival Caymmi, a assumir importância crucial na preservação e na divulgação da cultura da cidade que, apropriadamente, Gilberto Gil batizou de Roma Negra.

    Abraço,

    Rouxinol 10:44 (10 horas atrás) Artur
    Bem observado Rouxinol
    na verdade o MP só chegou ao Pelourinho 19 em 1955, como consta nos seus manuscritos. Aqui http://img193.imageshack.us/i/manuscritomppelourinho1.jpg/

    Abs

    Artur e Rouxinol, a informação que publiquei foi recolhida do depoimento do próprio Mestre Pastinha no Museu da Imagem e do Som.

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